20130212

Uma achega ao assunto da corruptela do PP e a papelada dum tal Bárcenas, vista do Brasil

Uma achega ao assunto da corruptela do PP e a papelada dum tal Bárcenas, vista do Brasil

Está a Espanha ensaiando uma nova modalidade de golpe de estado?

Segunda, 11 Fevereiro 2013 17:44




Alexandre Anhel Cuquejo - No Estado espanhol há duas forças em luta:
1. As centrípetas vs. Independentistas, federalistas e autonomistas, a exigirem como mínimo um respeito o mais igual possível entre todas as nações do estado; ou a tentarem sair do estado como único jeito certo de sobreviverem como nações diferenciadas, fundamentalmente no cultural. E dentro do estado tentam o objetivo de terem verdadeira autonomia financeira (além da cultural e a sua igualdade), e o seu corolário, que o estado deixe de centrifugar dívida sobre eles. No do défice público há muito contrabando nas mensagens interesseiras que sobre ele se dão.


O paradigma mais apurado de isso vemo-lo na Catalunha, e o processo muito sério e democrático que encetaram, para decidirem o seu futuroi
Ao mesmo tempo dá-se um segundo movimento:


2. Um muito forte, exacerbado neste momento, de afirmação da Espanha=Castela, centralizador, de revisão dos últimos anos, e tirar competências e demais às autonomias e nações sem estado. Esse movimento quer usar a força contra quem discutir isso, com todo um programa de reformas legislativas, a desenvolver muito alargadamente, para cilindrar qualquer oposição, ou contrarreação... E a dura crise pode ser muito bem a cortina de fumo para a sua benção.


O governo de Rajói foi empurrado ao leme do Estado espanhol pola crise, a desfeita de Zapatero-Mafo e alguns outros, e por quem está a prol desse programa centralizador de inverter radicalmente as cousas, com o sustento da imensidão da TDT-party mediática que há no Estado espanhol, furibundamente supremacista castelhana.
Para procurarmos o cerne ideológico desse pensamento, é só olharmos o trabalho de entidades como a Fundação FAES, impulsionada pelo ex-presidente Aznar.



O pensamento supremacista parte desses âmbitos, e nutre-se de ideias macabras, cavernárias e profundamente antidemocráticas.
A Catalunha, como dizia antes, começou um processo muito sério de sobrevivência, cousa que só pode ter garantias fora do Estado espanhol. A questão da desintegração do estado enerva os espanhóis (realmente Castela e assimilados).


Para enfrentar o desafio nacionalista, o premiê Rajói, que é parco em palavras, tenta fazer o menos ruído possível e agir caladamente. Um velho amigo meu, médico de Ponte Vedra, que é íntimo dele, comentou-me: “O Rajói está começando a pensar que o programa de reformas centrípetas não vai dar jeito para enfrentar o desafio (catalão): Pode que haja que fazer modificações na constituição e fazer um estado federal (ou federalizável), pois no quadro europeu não casa bem a imposição despida e com “imperativos categóricos” violentadores”.
O Estado espanhol tem uma câmara de representação territorial, o Senadoii, sem nenhuma competência real e 266 membros muito bem pagos com regalias adicionais incríveis. As suas duas únicas competências constitucionais, são realmente excecionais: a supressão da autonomia (artigo 155), e a reforma constitucional (artigo 167).
O senado tem um sistema de eleição e composição que garante que em qualquer caso o bloco espanhol-castelhano vai ter noventa per cento da representação. Nada de territórios iguais, nem de miragens de nenhum tipo.


A papelada dum tal Bárcenas. Estamos perante uma nova modalidade de golpe de estado?
De repente apareceu o assunto dos papéis do PP e as suas contabilidades A, B, C. D... etc. Cousa sabida por todos, desde há muitos anos. Nem tampouco é agora a primeira vez que tesoureiros do partido popular passam pelos tribunais (caso Naseiro por ex.)iii, e ficando sempre a cousa judicialmente em águas de bacalhau. Tampouco é a primeira vez que salta aos meios a questão das sobrepagas...
A corrupção no Estado espanhol impera livre desde há muito tempo, só que agora causa má imagem, sobretudo nos milhões de pessoas que não chegam ao final do mês, e têm dificuldades até com a alimentação mais básica.


PP e PSOE são dous partidos com grande restrobalho de corruptos, e jogam a um jogo falsário de lançarem o assunto uns contra os outros. Também os dous conhecem bem as redes de esgotos judiciais da peculiar justiça espanhola, isso sim espanhola, para montarem nos momentos precisos acusações que façam dano aos contrários (ou a quem interessar) ainda que a base for mais pequena que a ponta do dedo mindinho.


Eis um detalhe de interesse na nossa história: Os candidatos do PSOE para ocupar o cargo da secretaria geral, tanto a sua cabeça atual – o mentiroso compulsivo e pusilânime opositor Rubalcaba –, como a sua oponente – Carme Chacon –, foram ministros da defesa e estão muito ligados aos serviços de informação militares e civis (unidos realmente no CNI) e à Espanha indivisível e uma (“antes a guerra que isso”, “antes rojos que rotos”).


O CNI é muito poderoso no estado, e com um monte de recursos absolutamente opacos (aí não há austeridade, igualzinho a como se passa no ministério de defesa, ou no detalhe de terem-se acrescentado substancialmente os efetivos de polícia e guarda civil na Catalunha no último ano, apesar de se terem feito as transferências no campo da segurança pública, e ser essa despesa desnecessária do ponto de vista da segurança... Em que pensarão eh-eh.


A principal atividade do CNI é o controle da dissidência interna e dos arredismos... com infiltração de todo o tipo de organizações (segundo as minhas fontes – antena da CIA no Brasil, que é muito sabida –, tinham colaboradores até nos conselheiros do bloco do governo bipartido da Galiza); a isso soma-se um bocado de atividade norte-africana.
Nasce a papelada mediática Bárcenas, impulsionada por círculos próximos de Aznar (quem fala já abertamente de se ter enganado ao designar o gallego Rajoi como sucessor), do qual se informa a Rubalcaba, necessário ao projeto. Começando uma campanha mediática perfeitamente orquestrada com o objetivo de fazerem que renuncie Rajói. E à que parece ser difícil não se somar.


Dela tornam-se cabeças os jornais seguintes: El Mundo, o mais próximo ideologicamente do PP, e o do PSOE, El País. A que se soma toda a imensidão do TDT-party, que passou de negar o Gurtel (descoberto pelo já ex-juiz Garzon), a descarregar tudo sobre Rajóiiv.


Não se quer em nenhum caso que o Rajói dissolva as câmaras e convoque eleições (competência do premiê), mas que se passe a eleger um novo Presidente (premiê), que segundo uma leitura aberta da constituição em vigor, que começa a estar em boca de constitucionalistas ad hoc, a puxarem do seu anovado exame do artigo 99, qye o candidato poderia não ser deputado eleito... Quantas possibilidades abre isso!


Os círculos próximos do mundo do CNI, e também de não poucos desses meios, que estão apertando o gallego Rajoi, prefeririam chegar a um governo que chamam de concentração nacional (PP-PSOE)v que imponha o programa centralizador; e além de implementar o programa supremacista, se elimine, para fazerem boca, a autonomia da Catalunha... E para isso nada melhor que concentrados.
Ainda que a esta outra beira do Atlântico, algumas cousas cheguem pouco menos que como vagarosos remorsos, muito me temo que na Galiza, ela tão progressista, e extraviado o seu nacionalismo num regionalismo serôdio... não se entenda muito a cousa, e pensem… isso dos catalães não vai a nenhures pois é cousa da direita mais reacionária... Aguardo que a cousa não seja assim: se algum comentarista informar, agradeço.


Que é o que se está fazendo bem na Catalunha, que desata movimentos golpistas?
Na Catalunha as cousas vão-se fazendo com muito siso (seny). A vontade de se constituir em Estado não para de se acrescer, eis o caso da cidade de Barcelona que era considerada fortaleza do voto “nacional espanhol”, como se pode reparar aqui.


No dia 1 de março Barcelona vai aprovar fazer parte da associação de concelhos pela independência com o que a representação (administrativa) independentista supera bem 70 per cento da população.
Eis aqui um bom texto sobre os problemas do PSC (federalistas).
Cousas como a Assembleia de Catalunha e a sua pluralidade, e integração de todas as camadas sociais e setores da população, metem medo algures.


Que sejam publicados inúmeros roteiros do processo como por exemplo este, e todos convergentes no objetivo, apesar da diversidade de focagens, campos e interesses, ainda dá mais medo.
E que o processo seja pacífico, alegre, descontraído, abrangente, e que esteja a medrar de jeito sustentável entre a população... é-lhes terrível.

Notas:
i A coroa de Aragão foi unificada com a de Castela sob o princípio de tanto monta monta tanto. Sob os Áustrias permaneceu em vigor esse princípio com respeito às leis dessa coroa. É com Filipe IV e Carlos II, e o Conde Duque de Olivares, verdadeiro premiê (valido que dizem os castelhanos) a imposição castelhanista começa a agir nua. Resultado, temos o levantamento e uma longa guerra, que foi paralela à Guerra de recuperação da independência de Portugal, e decisiva para Portugal recuperar a sua soberania após a noite filipina (muito temos que agradecer todos os lusófonos à Catalunha). França tirou da luta dos catalães e o apoio a Castela contra Catalunha, o Rossilhão (tratado de 1659) do qual fica a curiosidade de Llivia. Após a falsificação do testamento de Carlos II pelo embaixador francês, passa a ser aspirante do trono dos reinos Filipe de Anjou, futuro Filipe V, e isso levou a uma guerra de 15 longos anos, que rematou com a tomada da cidade de Palma de Maiorca em 1715 (Em 1714, 11 de setembro fora submetida Barcelona). Aragão tudo lutou bravamente pela sua soberania. Da derrota nascem os decretos de Nueva Planta, e a imposição castelhanista. E Castela o tanto monta monta tanto esquecia-o, e convertia no seu acervo o resultado dos ganhos da guerra. No século XVIII e XIX Catalunha voltou a levantar-se polas liberdades como explica muito bem o pensador conservador Jaime Balmes. No século XIX, nas guerras carlistas, percebiam-se na Catalunha, como noutros territórios peninsulares submetidos a Castela, uma vontade catalã de lutar pelas suas liberdades. A primeira república federalista pi-margalliana, foi um impulso catalão, e na segunda república a Catalunha sob o governo de Maciá proclamou o estado catalão, como elemento de pressão para negociarem o seu enquadramento numa república da qual o seu segundo artigo constitucional – que não vigorou na prática o tal artigo – proclamava federalizável. A guerra civil foi basicamente um ajuste, ao que se somaram mais cousas, mas o principal, um ajuste das posições centrais às periféricas, das quais nasce como sempre um acervo histórico consolidado na recuperação democrática borbónica.
Uso o termo Catalunha, na breve nótula anterior dos seus levantamentos para obterem a liberdade. No sentido fusteriano e histórico em que o nome abrange todos os países catalães e que afortunadamente se está começando a recuperar. Na manifestação independentista de Maiorca de 31 de Dezembro de 2012, as palavras de ordem proclamavam: Somos catalães – Os castelhanos sempre foram hábeis com muito boas manobras para o “Divide et Impera”, na Galiza se se abrir os olhos isso é paradigmático... enquanto estiverem fechados, sereis (SÓ) galegos e portanto espanhóis.
ii O Brasil que é Estado federal sério, tem 78 senadores, os EUA 102.
iii As contas de Bárcenas começam na papelada, com as coimas do Naseiro
iv Para espanto de muitos bons votantes do PP, seguidores desses meios que não conseguem entender nada.
v Não esqueçam vocês que isso era o mesmo que diziam os do golpe de 23 de fevereiro do 1981 (23F), auspiciado pelo Rei, segundo o militar e historiador Martínez Inglês. Andará agora também no jogo a coroa... Eu não poria a mão no lume. O processo que se está vivendo é mais parecido ao do 23 F do que a primeira vista possa parecer.


Uma achega ao assunto da corruptela do PP e a papelada dum tal Bárcenas, vista do Brasil

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